Não sei se nesses saites com glossários de figuras narrativas ou clichês da dramaturgia este subgrupo está registrado. Se não, registro eu: são as “Histórias Que Transcorrem ao Longo de Uma Única Noite”, numa narrativa que às vezes dá a sensação de que está acontecendo em tempo real. Sem ser o exemplo mais famoso (estes vêm abaixo), o que mais tipicamente de lembra esse gênero é The Night of the Jabberwock (1950) de Fredric Brown. É uma história de crimes praticados e investigados numa cidadezinha do interior, numa única noite. O romance dá a impressão de ter sido escrito ao longo de uma noite, e eu o li numa noite, entre o jantar e a hora em que fui dormir.
Colateral (2004), o filme com o pistoleiro Tom Cruise e o taxista Jamie Foxx, pertence ao gênero com louvor, pela narrativa tensa e bem encadeada. Não lembro se Fuga em Nova York (1981), com Kurt Russell, também transcorre numa noite única, mas é o que a lembrança me sugere. (Poderia ir consultar no Imdb, mas daria a impressão de saber tudo de cor, o que não vem ao caso.) Alguns filmes dão a impressão de acontecerem numa noite só porque acontecem em ambiente fechado com ação incessante; é o caso de Rocky Horror Picture Show (1975).
No romance policial, outro favorito meu é Deadline at Dawn (1944) de William Irish (pseudônimo de Cornell Woolrich). Um rapaz e uma moça se conhecem de noite. Apaixonam-se. Descobrem que odeiam a cidade grande. Decidem ir embora juntos dali, mas justo nesse instante se envolvem num crime. Têm até o amanhecer para descobrir o criminoso antes que a polícia os prenda.
Um ótimo livro de fantasia tenebrosa (dark fantasy) é After Dark (1980), de Manly Wade Wellman. É bem verdade que os primeiros capítulos têm outra cronologia, mas mais da metade do livro é a narrativa tensa de uma noite interminável passada por um grupo de pessoas numa casa, cercadas por entes sobrenaturais que tentam penetrar suas barreiras psíquicas, ansiosas para que o sol nasça e venha em seu socorro.