(Videodrome, de David Cronenberg)
As discussões a respeito do uso da TV daqui pra frente têm que considerar que a TV está deixando de ser apenas espetáculo. Continuamos vivendo na tal “Sociedade do Espetáculo”, mas quando tudo vira espetáculo, o poder magnético do espetáculo se dilui, se redistribui ao longo de toda a cadeia. A TV Espetáculo tenta se manter como pode, mas cresce uma coisa nova: a TV Vigilância, produzida pelos milhares de câmeras espalhadas pelas autoridades nas ruas, praças, prédios, etc. Agora surgiu sua contrapartida: uma TV Vigilância da população. Com os novos meios de transmissão individual, cada pessoa pode se transformar numa TV ao vivo.
As transmissões recentes da Mídia Ninja varam o dia, a noite, a madrugada, transmitindo ao vivo manifestações ou reuniões, mas sofrem uma crítica constante: “Quem diabo tem tempo para acompanhar uma manifestação em tempo real? Quem pode ficar a noite toda em casa sentado, assistindo uma passeata?” Amigos já me disseram: “Acho simpático, mas prefiro o compacto de 3 minutos sobre a passeata, feito pelas TVs convencionais”.
Eu vejo essas manifestações. Como? Abro uma aba no TwitCasting, solto ali a transmissão da Mídia Ninja, abaixo o som, troco de tela e fico trabalhando, ou então maximizo a imagem e fico lendo numa poltrona próxima. Quando a voz do narrador sobe de tom, olho para a tela. (É assim que vejo futebol, aliás. Não fico grudado no futebol os 90 minutos. Eu deixo ligado – e leio, escrevo, trabalho, toco violão, e só presto atenção “quando o bicho pega”.) Não é espetáculo, é uma parte do ambiente, algo que está sempre ali, como o rádio que acalenta as fantasias das donas-de-casa que cozinham, ou como a muzak que atenua a promiscuidade demográfica dos elevadores.