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3949) Poeminha curto (20.10.2015)

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(Leminski, por Marcos Guilherme)


Já vi esse tipo de poema descrito como “poeminha leminskiano”. O curitibano Paulo Leminski não o inventou, mas é um dos seus melhores executantes.  Ninguém inventa essas coisas, essas formas simples. Esse formato difuso brotou junto com os poetas da minha geração, os que começaram a divulgar seus poemas nos anos 1970 e nos 80 já estavam em livro. Eu fiz um monte deles, todo mundo fez um monte, e com frequência vemos belas coisas sendo ditas.



Leminski é candidato à faixa de melhor fazedor, com preciosidades como: “pariso / novayorquizo / moscoviteio / sem sair do bar // só não levanto e vou embora / porque tem países / que eu nem chego a madagascar”.  Ou essa fotografia zen: “o barro / toma a forma / que você quiser // você nem sabe / estar fazendo apenas / o que o barro quer”.  Esses movimentos de ida e volta do poema se mantêm mesmo quando cada bloco fica menor em tamanho: “um pouco de mao / em cada poema que ensina // quanto menor / mais do tamanho da china”.



Este é o poema curto em dois blocos.  Tem um desenlace rítmico diferente da sextilha, diferente do haicai. Estruturalmente, corresponde mais ou menos a duas quadrinhas (ou tercetos, ou dísticos, misturadamente) superpostas, resultando num poema de 6 a 8 linhas no total, com uma cesura ao meio. O verso do meio e o último (o 4o. e o 8., digamos) rimam entre si. Este efeito é mais importante do que o numero total de versos, e se eles rimam internamente entre si ou não. É como se o poema mostrasse a cara, depois a coroa, e tudo rimasse. Um vapt e um vupt. Um zás e um trás.



O primeiro bloco pode ter de uma a quatro linhas, raramente mais, linhas que exibem rimas ou não, e ele se conclui com uma linha onde é proposta a rima que deve se repetir no final. A leitura desse primeiro bloco deixa uma expectativa rítmica e sonora a ser preenchida pelo segundo. Quando ele o faz, fecha o poema com um senso de resolução melódica e simetria estrutural. O perigo de tal verso é apenas, como o de toda forma simples, o de ser muito acessível ao versejador preguiçoso ou sem muito o que dizer.


Ainda Leminski, este com um alô de chapéu a Yeats: “eu tão isósceles / você ângulo / hipóteses / sobre o meu tesão // teses sínteses / antíteses / vê bem onde pises / pode ser meu coração”.  Este, sobre a bolandeira do fazer versos: “moinho de versos / movido a vento / em noites de boemia // vai vir o dia / quando tudo que eu diga / seja poesia”. E esta declaração de guerra em forma de cambalhota: “o pauloleminski / é um cachorro louco / que deve ser morto / a pau a pedra / a fogo a pique // senão é bem capaz / o filhodaputa / de fazer chover / em nosso piquenique”.




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