A trilogia Southern Reach (“Comando Sul”) de Jeff VanderMeer, série de FC que já ganhou alguns prêmios nos EUA, é formada pelos romances Aniquilação, Autoridade e Aceitação. Do autor eu já tinha lido vários contos de suas coletâneas Secret Lives (2006) e City of Angels and Madmen (2001). Gosto de sua prosa exuberante, às vezes difícil de traduzir porque ele se projeta na descrição de cenas fantásticas para as quais não temos referenciais. O leitor precisa ler como se tivesse duzentos olhos (alguns dos seus personagens têm).
A visão futurista de VanderMeer é radicalmente biológica, zoológica, botânica, ecossistêmica. Na trilogia não passa nem sombra de espaçonaves, astronautas, robôs; e mesmo quando nos vemos diante de transições bruscas para pontos remotos do universo, isso se dá mediante uma tecnologia alienígena que (para lembrar a frase de Arthur C. Clarke) é tão avançada que não se pode distinguir da mágica.
Num ponto da Costa Leste dos EUA uma região costeira, a “Área X”, vê-se isolada do resto do mundo por uma barreira invisível. O Comando Sul é a agência encarregada de preparar expedições para penetrar nessa área, onde há dois pontos de referência principais: um farol e uma torre simétrica a ele, que penetra de chão adentro. Nas paredes dessa torre, uma criatura, o Rastejador, está escrevendo versículos em tom bíblico, usando uma substância orgânica como um lodo.
VanderMeer faz vagas menções ao país e ao mundo em volta, tudo acontece entre as cidadezinhas em torno, o prédio do Comando Sul e a Área X. Sabemos apenas que aquela investigação se arrasta há trinta anos, e que o mundo lá fora está convulsionado por uma crise ambiental e pelo terrorismo. Há raríssimas e vagas menções a jornais, TV, comunicações com o resto do país. É como se só existisse aquele trecho da Costa Leste, protegido por uma redoma.