Num dos seus primeiros artigos para The New Republic, onde colaborou por muito tempo (“The Art of Translation” - http://tinyurl.com/lcgosud), Vladimir Nabokov listou os três principais equívocos cometidos por tradutores, e os três tipos principais de tradutor. Ele próprio se apressou a dizer que cada erro não correspondia a cada tipo, mas se distribuíam aleatoriamente entre eles.
Para o autor de Lolita, o primeiro erro, e menor, corresponde aos “erros óbvios devidos à ignorância e ao conhecimento equivocado”. São p. ex. os tradicionais “falsos amigos” e outras semelhanças ilusórias, que nos fazem traduzir “eventually” por “eventualmente” ou “push” por “puxe”. Um erro de natureza técnica, que o tradutor se apressaria a corrigir se ficasse sabendo. Em segundo lugar, diz ele, vem o caso do tradutor que “intencionalmente pula palavras ou trechos que não quer se dar o trabalho de entender, ou que poderiam parecer obscuros ou obscenos para leitores vagamente imaginados”. O terceiro caso é uma radicalização do segundo, quando “uma obra-prima é aplastada e rebatida num tal formato, e vilmente embelezada de forma a se enquadrar de conformidade aos valores e aos preconceitos de um público qualquer”. São erros cuja gravidade aumenta na proporção da opção consciente do tradutor, da sua intenção de errar.
E os tipos de tradutores? Diz ele que são: “o erudito ansioso para fazer com que o mundo aprecie as obras de um gênio obscuro tanto quanto ele próprio aprecia; o mercenário bem intencionado; e o escritor profissional relaxando na companhia de um confrade estrangeiro”. Nabokov parece temer o terceiro tipo mais do que os outros dois, pois adverte: “quanto maior o seu talento individual, mais provável que ele acabe submergindo a obra original sob a cascata cintilante do seu próprio estilo. Ao invés de vestir a pele do autor verdadeiro, ele obriga o autor vestir a pele dele próprio”.