A série Game of Thrones (HBO) começou sua quinta temporada há três fins de semana. Há quem ache a série inferior aos livros, mas da minha parte tenho feito desde o início o caminho inverso. Vejo a série primeiro, e depois leio os capítulos correspondentes aos trechos que mais me interessam, em busca de maior riqueza, textura, espessura, as armas imbatíveis do texto literário.
GoT está para a Fantasia Heróica tradicional tipo O Senhor dos Anéis um pouco como o bang-bang italiano estava para o faroeste clássico dos EUA, onde havia uma divisão mais clara entre os bons e os maus, os certos e os errados. Os westerns spaghettis trouxeram maior cinismo, maior sujeira (o western clássico era limpinho demais, feito-em-estúdio demais) e maior realismo ao gênero. Na fantasia, somos forçados a constatar que a política do mundo moderno não parece muito com as epopéias alegóricas de Tolkien: parece, sim, com o jogo de sacanagens, traições, vinganças, crueldades e covardias que vemos entre as “elites brancas” de Westeros.
A lenta progressão da história induz (em nós) expectativas de vitórias ou de desgraças que não se confirmam. Essas guinadas ressaltam o modo imprevisível como o entrechoque de variáveis faz mudar as regras do jogo no transcorrer da partida. Na luta pelo poder em Westeros, cada aparente triunfo pessoal (Snow eleito comandante da Guarda, Arya refugiando-se em Braavos) cobra um sacrifício que não foi previsto. Sansa é levada de volta ao antigo castelo de sua família, mas o preço é casar-se com Ramsay Bolton, um dos psicopatas mais sádicos da série (há vários). E os autores não desdenham um clichê: se um personagem está fugindo incógnito e pede para ir disfarçado a um lugar público, a probabilidade de que seja descoberto paga 1 por 1 na Bolsa de Apostas.