(ilustração: Lisa Congdon)
Oswald de Andrade foi um dos praticantes mais espirituosos do poema curto tipo poema-piada. Um dos seus mais conhecidos e mais citados intitula-se “AMOR”, e tem uma palavra apenas: “humor”. Um jogo-de-palavras até simplório para o homem que disse “Tupi or not Tupi, that is the question” e outros biscoitos finos. Oswald tem outros belos poemas de amor. Era um sujeito meio vulcânico, tinha qualidades únicas, tinha os defeitos de sua época e os de seu temperamento, mas sua atitude amorosa ao escrever é às vezes exuberante.
Muita gente lê esse poema assim: O amor é humor. O amor tem que ser divertido. Amor era para ser uma coisa bonita e leve, uma coisa que passa. Amor não é para carraspanas, melodramas, aquelas tragédias gregas de paixões e de vinganças. O amor teria que ser uma coisa art-noveau e Modernista ao mesmo tempo.
Outros leem assim: para manter um amor é preciso ter muito bom humor. Se não você endoidece. O humor surge aí não como a essência do amor, mas como uma espécie de contrapeso ou atenuante. O modo como Oswald os colocou no poema não implica equação. Pode ter lido, por exemplo, como uma polarização, como se o título fosse “YIN” e o poema tivesse apenas a palavra “yang”.
De fato, o amor é muitas vezes descrito pelos seus bardos como a fusão ideal entre duas pessoas, que se tornam capazes de ver com os olhos um do outro, sabem o que o outro está pensando, etc. E o humor, claro, é o contrário: é saber se cortar e se isolar instantaneamente de algo ou de alguém, em função de outra associação de idéias que só é possível fazer “de fora”. A expressão popular “eu perco um amigo mas não perco uma piada” existe porque devem ser muitos os episódios em que alguém manda um gracejo pesado demais para que a amizade se mantenha. O amor aproxima, o humor distancia, então o humor é o contrapeso brechtiano, cortando o barato da paixão, que só enxerga a si mesma. Cuidado com um e cuidado com o outro.