A gíria é uma forma de literatura. Literatura oral, claro. Palavras e expressões inventadas em voz alta no calor do momento, com empatia imediata, rápida propagação (“viralização”, diríamos hoje) e, algumas décadas depois, a consagração nos compêndios. Muita gíria são intraduzíveis, por serem invenções sonoras, onomatopéias, neologismos absurdistas. Outras, porém, produzem imagens visuais ou descrições vívidas, incríveis. O saite The Art of Manliness transcreve um pequeno glossário de gírias masculinas da Inglaterra do século 19, e muitas são pequenos achados de criação verbal.
“Blind Monkeys” (macacos cegos). Expressão usada para sublinhar a incompetência de alguém, supondo a existência, num zoológico, de uma jaula de macacos cegos. “Fulano só serve mesmo pra levar os macacos cegos pra fazer cocô”. “Month of Sundays” (um mês de domingos). Um longo espaço de tempo, equivalente a trinta domingos. “Acho que faz um mês de domingos que eu não vou ao bar”. Em português, temos uma expressão equivalente no futebol: “Esse jogador é muito velho, só de minuto de silêncio ele já deve ter uns dez anos”.
“Perpendicular” (idem). Refeição feita em pé num restaurante popular. “Half Mourning” (meio luto). Um olho roxo em consequência de uma briga. Quando são os dois olhos dizia-se “whole mourning”, luto completo. “Earth Bath” (banho de terra). Uma sepultura. “Firing a gun” (atirando de pistola). Uma técnica freqüente de forçar a barra ao contar uma história, num grupo. O sujeito diz: “Escuta! Isso foi um tiro?! (silêncio atento) Bem... Por falar em tiro...”
“Smeller” (cheirante). O nariz. Muito usado no mundo do boxe: “Ele levou dois socos seguidos no cheirante.” “Honor bright! (honra brilhante). Expressão semelhante a “juro por Deus!”, contração de “I swear by my honor, which is bright and unsullied!”, “juro pela minha honra, que é brilhante e imaculada”. “Shake the elbow” (balançar o cotovelo). Jogar dados. “Fart catcher” (apanhador de peidos). Um criado ou criada que caminha atrás do patrão ou patroa.