(Rama, de Arthur C. Clarke)
Peter Nicholls, crítico australiano que viveu no Reino Unidos por dezoito anos, é um dos editores de The Encyclopedia of Science Fiction, uma das obras de referência essenciais sobre FC (http://www.sf-encyclopedia.com/). Na segunda edição da obra (1993) Nicholls, autor de grande parte dos verbetes temáticos, sugeriu como um dos temas notáveis da FC aquilo que ele chamou de Grandes Objetos Mudos, “Big Dumb Objects”. Em inglês há uma sutileza maior porque “dumb” tanto pode ser “mudo” como “estúpido”. São aquelas construções gigantescas que a Humanidade vai encontrando ao percorrer a galáxia. Voltamos a lembrar deles há poucos meses, quando a astronomia constatou uma estrela que parecia ter sua luz periodicamente eclipsada, em parte, por algo que, visto assim, poderia ser uma gigantesca estrutura artificial em volta da estrela, como uma grade, imóvel ou não.
Vieram aos jornais Grandes Objetos Mudos como o Ringworld de Larry Niven (um anel-de-saturno artificial abrigando um mundo inteiro), a Orbitville de Bob Shaw (o mesmo conceito, só que em vez de um anel era uma esfera oca, tendo a estrela ao centro), e outros. É algo típico de uma FC “hard” como a de Arthur C. Clarke, Gregory Benford, Greg Bear, John Varley e outros autores capazes de descrever um mundo assim de modo acreditável. O termo preferido pelos críticos é “Macroestrutura”, até porque alguns desses grandes objetos artificiais não são nem mudos bem bobos (http://www.sf-encyclopedia.com/entry/macrostructures).
Nicholls vê nisso um resíduo poderoso do elemento Romântico (no sentido literário) numa literatura que, pela força da verossimilhança científica, tende a ir justamente para o lado oposto, o do Classicismo. Naquelas obras, a humanidade descobre maquinismos gigantescos que ela em geral não sabe para que servem nem como podem ser postos a funcionar. Em geral a aventura se encerra sem que esse mistério maior tenha sido respondido.