Umberto Eco propôs num livro homônimo e famoso o conceito de “Obra Aberta” para falar dessas obras que criam espaços a serem preenchidos, ou elementos a serem re-arranjados, pelo leitor. Obra que “chama o leitor pra dentro”, com poderes para interferir. Uma obra interativa, diríamos hoje, quando o conceito se expandiu a ponto de termos obras de arte – como os videogames – em que a interatividade é estrutural, essencial, não pode ser retirada sem que a obra inteira desmorone.
Um tipo particular de obra aberta, na literatura, é o livro deixado incompleto por um autor falecido. Há muitas obras assim, e acabam sendo publicadas sem o final (caso mais frequente) ou sem o meio, caso de O Processo (1925) de Kafka, do qual ele chegou a escrever o último capítulo, mas ficaram faltando muitos trechos intermediários. Um passatempo de autores sem assunto é propor “finais” para clássicos inacabados como O Mistério de Edwin Drood (1870) de Charles Dickens, que tem o charme adicional de ser um romance policial, o que convida todo mundo a descobrir o verdadeiro criminoso (que Dickens morreu sem revelar).
Também foram deixados inacabados As Confissões do Impostor Felix Krull (1954) de Thomas Mann, O Último Magnata (1941) de F. Scott Fitzgerald, The Pale King de David Foster Wallace (2011). Isso não os impede de terem sido publicados, depois de um trabalho de ordenação de todo o material deixado pelo autor. Ou de serem concluídos por alguém, como é o caso the The Poodle Springs Story, que Raymond Chandler deixou incompleto ao morrer. Eram 3 ou 4 capítulos muito ruinzinhos, que foram complementados e publicados em 1989 por Robert B. Parker (ainda não tive coragem de checar o resultado).