Na barreira policial deu logo problema. Todo mundo estava com a papelada em dia, o carro estava regularizado, mas o equipamento de gravação macro exigia um documento que não tínhamos. Viraram-se todos para mim, mas eu disse: “Vocês me deram a lista do que era para providenciar, e eu providenciei. Ninguém me pediu para trazer isso aí.” Eu tinha pedido que não me botassem nem como tesoureiro nem como “roadie” do grupo, quanto ao mais toparia até ser o janitor. Me botaram como o burocrata tecno.
Por fim fomos conferenciar, voltamos com os bolsos mais leves e a cancela se abriu. Pegamos o primeiro trecho, a via costeira que ia dar nos primeiros subúrbios de Vequiné. Ciço Fotógrafo disse que tudo que tinha trazido estava no seguro. A parte de iluminação, lâmpadas, rebatedores, e tudo o mais, a gente tinha pegado emprestados. Essa parte não estava.
Adiante, uma policial, num sotaque quase ininteligível, disse com abundância de gestos que parássemos para a revista. Descemos todos, acendemos um aliviante, ela fumou também, mexeram em tudo e não acharam nada. Ela nos preveniu que ali perto da fronteira estava havendo assaltos. Grupos de homens entravam como passageiros nas vans públicas, como se não se conhecessem, e a certa altura do trajeto rendiam todo mundo. Ela falou que às vezes bastava a uma van quase cheia dar carona a um jovem e inofensivo casal para ir parar no meio do mato.
Não foi um casal que pediu carona, foram dois homens, o mais velho e de chapéu mole tratando o outro como se fossem parentes, o outro carrancudo e iracundo, sem dizer uma palavra. Iam pegar um voo, a carona com que contavam tinham falhado, estavam ali há horas. Perguntei pela bagagem, disseram que estavam só com as mochilas, era um passeio.