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3879) Gótico Sulista (30.7.2015)

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(foto de William Faulkner)

Lendo artigos sobre a primeira temporada da série True Detective, ambientada na Louisiana, cheguei ao chamado “Southern Gothic”. O “Gótico Sulista” é o nome dado a um certo viés literário de autores do Sul dos EUA como William Faulkner, Flannery O’Connor, Harper Lee, Barry Hannah, Zora Neale Hurston, etc. Um artigo do escritor MO Walsh (aqui: http://tinyurl.com/otpjtx3) faz um balanço do que seria esse subgênero, que aqui e acolá, à mercê dos inesperados de cada autor, roça pela literatura fantástica. É gótico pelo fatalismo, pela visão quaderniana do mundo como uma caatinga áspera e pedregosa sob um sol assassino. (Há um gótico noturno e um gótico ensolarado – como o gótico-mangue de Anne Rice, que pode ser tropical sem deixar de ser tenebroso.)

Walsh diz que os autores do gótico sulista sabem do que estão falando: conhecem a terra, sua cultura, seu modo de ser. Não são alguém que escolheu aquela região pelo exotismo; eles nasceram e viveram ali. Seus personagens são considerados grotescos pela crítica, mas, segundo Walsh, “embora sejam personagens deformados ou intolerantes ou violentos, nas mãos de um escritor sulista são descritos com empatia e verdade. (...) Isto não é ser grotesco. É uma vida dura e um trabalho duro, e esses personagens apenas mostram cicatrizes visíveis daquilo que muitos de nós carregamos em nosso íntimo.”

A relação com a literatura oral é forte no Sul; esses autores “estão ligados pela tradição oral de contar histórias na varanda, e se deleitam com a construção de frases fora do comum.”  O mesmo quanto à presença da violência nas obras: “Todos os romances [desse grupo] envolvem situações-limite. (...) As vidas das pessoas estão em jogo, tanto quanto a vida dos leitores desde o momento em que acordam até o momento de fechar os olhos.”

Walsh finaliza dizendo que a história cruel, violenta e socialmente injusta do Sul produziu personagens como o pobre diabo (“underdog”), personagem sulista por excelência, que sempre acha que está fazendo a coisa certa mas vê o mundo voltar-se contra ele. E cita a frase do advogado Atticus Finch em O Sol é Para Todos: “O fato de que já fomos derrotados cem anos antes do nosso nascimento não é motivo para achar que não podemos vencer.”

O Sul dos EUA é muito comparado ao Nordeste brasileiro: uma região agrária, com grandes proprietários de terra, com escravos, que aos poucos ficou para trás de outra região, mais industrializada, mais moderna, mais urbana. O grande escritor é o que capta a vibração dos dramas específicos de cada uma e as utiliza para contar histórias que assinalam como uma marca dágua a psicologia de uma cultura.






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