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3849) Kazuo e a fantasia (25.6.2015)

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(ilustração: Tim McDonagh)

O escritor Kazuo Ishiguro publicou o romance The Buried Giant, que tem elementos do gênero fantasia, mas não o chamou de “fantasia”. Caiu sobre ele a avalanche de críticas que cai sobre quem “fica em cima do muro”, na política-partidária que tenta há anos se impor no meio literário (“ou você assume que é um dos nossos e concorda conosco em tudo, ou assume que é um deles e jamais concordaremos com você em coisa alguma”). Problema que já acometeu Kurt Vonnegut Jr. (que ousou dizer que não era escritor de ficção científica) e outros. O New Statesman colocou lado a lado Ishiguro e Neil Gaiman para trocar idéias num diálogo que pode ser lido aqui: http://tinyurl.com/ob4zlzu.

Neil Gaiman é macaco velho neste mundo, mas Kazuo (que nunca li, aliás) parece meio inseguro (essa foi infame) diante das leis do fandom. Os fãs exigem que o autor não apenas cultive o gênero, mas faça propaganda dele, defendendo-o junto aos infiéis em geral, do jeito que um militante tem que defender seu Partido. Ishiguro sabe que existem fórmulas nos gêneros, e dá um divertido exemplo com os filmes de samurai japoneses:

“Quando cheguei à Grã-Bretanha aos cinco anos uma das coisas que me chocavam na cultura ocidental eram as cenas de lutas de espadas em filmes como Zorro. O que eu conhecia era a tradição dos samurais, onde toda habilidade e experiência converge para um único instante que separa ao vencedor e o perdedor, a vida e a morte. Toda a tradição samurai é a respeito disso: desde os mangá até filmes de arte como os de Kurosawa. É parte da magia e da tensão de uma luta, no que me diz respeito. Mas então eu via pessoas como Basil Rathbone como o xerife de Nottingham e Errol Flynn como Robin Hood e eles tinham longas conversas enquanto batiam com as espadas uma na outra, e a mão que não estava segurando a espada fazia uma espécie de gestos vagos no ar, e a idéia parecia ser a de conduzir o adversário até a beira de um precipício enquanto o distraía com um longo diálogo expositivo a respeito do enredo do filme. (...) Nos filmes de samurai, os dois oponentes se encaram durante um longo tempo, então acontece uma violência com a rapidez do relâmpago, e acabou.”

Os escritores sérios veem os gêneros literários de maneira diferente dos fãs (essa terrível mutação transgênica dos leitores, criada pela indústria das celebridades). Para um escritor, um gênero literário é uma caixa de ferramentas, um conjunto de fórmulas e truques à sua escolha. Para um fã, um gênero é um conjunto de rituais a serem cumpridos, um conjunto de dogmas a reverenciar, um conjunto de experiências gozosas que ele quer ver repetidas indefinidamente.



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