Ela pertenceu à linhagem das grandes damas do romance policial britânico, com Agatha Christie, Dorothy Sayers, P. D. James e outras. Cada uma com seu estilo e suas histórias; cada uma com seus criminosos típicos e seu detetive preferido. Não li nenhum dos romances de Ruth Rendell onde aparece o Inspetor Wexford, sua criação mais famosa, mas nada está perdido. O único consolo que temos na morte de um escritor é que ele se vai mas os livros ficam. (Imaginei agora, durante ume terrível fração de segundo, um planeta distópico onde a morte de um escritor fazia desaparecer para sempre todos os seus livros impressos e todas as palavras escritas por ele ao longo da vida.)
O obituário da BBC registra um fato divertido: bem jovem, ela trabalhou como repórter num jornal de Essex, e acabou demitida devido à cobertura que fez de um jantar num clube esportivo local. Rendell não compareceu ao evento e fez o que muitos repórteres fizeram e farão até o fim dos tempos: escreveu a reportagem “no escuro”, uma vez que jantares desse tipo são sempre iguais. O que ela não contava é que o orador principal da noite teve morte súbita durante o discurso, e o jornal dela foi o único que ignorou o fato.
“Eunice Parchman matou a família Coverdale porque não sabia ler nem escrever.” A frase inicial de Um Julgamento em Pedra (1977) é um dos começos mais famosos da literatura policial, porque abre o livro revelando quem é o criminoso. A série fatalista de circunstâncias que leva uma empregada (que esconde o fato de ser analfabeta) a chacinar os patrões foi filmada por Claude Chabrol (La cérémonie, 1995). Pedro Almodóvar filmou Carne Trêmula (1997) baseado em seu romance Live Flesh (1986). A obra de Rendell, felizmente, tem sido traduzida no Brasil: deve haver mais de vinte títulos à disposição do leitor, por várias editoras.