Oscar Wilde, o rei do paradoxo, dizia: “Se quiser conhecer a verdadeira personalidade de alguém, dê-lhe uma máscara”. Faz sentido. Quando estamos mostrando nossa própria cara, estamos mostrando uma imagem presa a convenções e regras sociais, familiares, morais, etc. Cada um de nós é um personagem na convivência social com família, amigos, colegas de trabalho. Sabemos que qualquer passo em falso vai manchar a reputação dessa pessoa que somos, desse papel que é o único que temos. Nosso rosto e nossa imagem pública são esculpidas pelo Superego, pelas exigências que nos massacram de cima para baixo e de fora para dentro.
Quando botamos a máscara, a coisa muda de figura. No carnaval, machões se vestem de mulher, homens pacatos empunham armas de brinquedo e promovem massacres fictícios, mulheres recatadas viram odaliscas se oferecendo (de mentirinha) a qualquer um. Botam pra fora o que de fato são (ou uma parte importante e reprimida do que são) e vivem o alívio de uma fantasia permissiva e consolatória.
Freud comentou que a literatura popular, com seus heróis indestrutíveis e sempre triunfantes, é “a literatura do Ego”, destinada a celebrar e gratificar essa imagem idealizada de nós mesmos. Quando colocamos uma máscara, essa máscara vira “o Eu que gostaríamos de ser”; quando criamos um herói, acontece o mesmo. Histórias de heróis com dupla identidade são um clichê da literatura popular: Superman, Batman, o Zorro, o Sombra, o Homem Aranha e incontáveis outros têm uma identidade pública, pacata, civil, e uma identidade secreta e famosa, o herói que a cidade inteira teme e reverencia sem saber que se trata daquele mesmo indivíduo banal que todos cumprimentam sem saber que dentro dele se esconde o herói.