É cada vez mais comum a gente entrar num táxi e ver que o motorista está dirigindo e assistindo TV ao mesmo tempo, numa televisãozinha acoplada ao painel, onde tanto pode estar rolando um noticiário quanto o DVD de uma dupla sertaneja. Em vez de implicar, e ficar pedindo que desligue aquilo (o que seria o procedimento mais ajuizado) eu prefiro dar uma de cientista e ficar analisando o comportamento do cara. “Não atrapalha não?”, pergunto. Eles dizem algo como: “Não, eu não fico olhando o tempo todo, só olho quando paro.” Ou então: “Deixei ligado só pra saber das notícias.” Eu: “Por que não deixa só o áudio, então?” Ele: “Ah, porque certas notícias tem imagens que a gente quer ver, enquanto eu vou devagarinho e dou uma espiada, ou deixo para espiar quando paro no sinal”.
Há um sistema que elimina a imagem quando o carro está em movimento. Já peguei táxi com um DVD rolando, mas sem imagem: era um show, a música avançava normalmente, mas a tela estava preta, com um letreiro branco no meio. Cada vez que o carro se imobilizava, a imagem reaparecia. Quando o carro avançava de novo, a tela ficava preta. Imagino que seja muito simples fazer esse sistema acoplado, que reduz um pouco o risco de acidentes.
Mas (pergunto) se dirigir falando ao celular pode resultar em multa, por que é permitido ao taxista dirigir assistindo jogo de futebol (pense numa coisa onde a olhadela é inevitável, na hora H!)? Ou assistindo DVD de música, filme, o que seja? O risco de acidente, por uma olhadinha rápida, não é o mesmo que o de falar ao celular?
A verdade é que a TV invade todos os espaços. Vi uma entrevista de um europeu que veio ao Brasil e ficou escandalizado com o fato de que em todos os restaurantes em que entrou havia uma TV ligada, geralmente na programação da Globo. “Na Europa,” dizia ele, “vai-se ao restaurante para comer e para conversar. Uma TV ligada num restaurante é uma invasão de um espaço de privacidade.”