(ilustração: Dariusz Klimczak)
Acabou a campanha. Ontem, os brasileiros escolheram funcionários públicos de quem deverão cobrar serviço durante os próximos quatro anos. Pra quem tem o poder, quatro anos passam num instante, vapt-vupt, não dá tempo nem de gelar a cerveja. Para a oposição, quatro anos são uma eternidade. Uma Kalpa multiplicada por um Eon, um exílio sem fim na masmorra da ilha onde ficou preso o Conde de Monte Cristo. Felizmente, ao contrário de Edmund Dantès, quem desaba na oposição tem direito, no seu calabouço, a internet bandalarga e conexão com tudo em tempo real. Calada ela não vai ficar.
Poderiam todos ficar mais serenos, depois que passar a adrenalina das quatro linhas. (Do futebol ou do UFC? Digamos futebol, é mais diplomático.) Todo mundo acha bonito quando, no fim de um clássico disputadíssimo, entre dois times de ponta e antagonistas históricos, num jogo de muitos gols e viradas no placar, cheio de cartões e “lances ríspidos”, então, conquistado o título, os que estavam trocando carrinhos e cotoveladas se abraçam, trocam de camisa, comentam alguma coisa, dão uma risada. O jogo acabou (dizemos nós, ainda meio surpreendidos com essa cultura tão moderna); eles “são profissionais, são colegas de trabalho”. E achamos bonita a transição da fúria guerreira para o sorrisão diplomático.
Quando é com os políticos... Por que todo mundo se escandaliza quando os vê trocando de time, abraçando os ex-antagonistas, trocando por elogios os antigos vitupérios? Ora, por que não o fariam? São profissionais também. São colegas de trabalho. Surgem na vida com um personagem, ou com um projeto de. São aceitos, burilados em público, jogados à arena das gramas e à das urnas, e os que vão sobrevivendo têm chance de um dia serem convocados para alguma coisa.