Me perguntaram numa entrevista dias atrás se eu achava Neil Gaiman o melhor escritor da fantasia urbana (ou do “macabro insólito”, não lembro bem que rótulo foi usado). Falei que ele era excelente – mas não existe “o melhor”, isso é um conceito esportivo, hierárquico, aritmético, que tem tudo a ver com o esporte mas nada tem com a arte, pois esta se baseia em impressões pessoais e coletivas que mudam o tempo inteiro, e se assemelha mais ao mercado de ações, onde o valor é expresso em quantidades numéricas (dinheiro) mas é medido em fantasias subjetivas grupais (avaliações do mercado). Quando terminei de explicar, a repórter estava olhando para o microfone como se ele tivesse acabado de brotar ali na mão dela, e nunca me fez a segunda pergunta.
Resposta: sim, Neil Gaiman é um bom autor (seu eventual parceiro Gene Wolfe é melhor ainda) mas a razão de citá-lo é que eu o sigo no Twitter (@neilhimself), então estou mais exposto a irrelevâncias como ficar sabendo da agenda de noites de autógrafos dele por países inacessíveis, mas também a bate-papos ocasionais. Não só ele, sigo algumas dezenas de autores, mas ele é um dos que mais postam, juntamente com Jonathan Carroll e William Gibson. (Mas em surtos. Às vezes somem por semanas a fio.)
Vantagens da cultura digital, substituindo os hollywoodianos “escritórios de divulgação”, que ficavam liberando diariamente factóides sobre os astros seus patrões. Hoje o patrão precisa matar hora numa conexão atrasada e fica trocando idéias com anônimos que lhe perguntam sobre seus livros. Perguntado, Gaiman diz que seu filme favorito seria um desses: “If, The Manuscript of Saragossa, e All That Jazz”. Nunca vi O Manuscrito de Saragoça, adaptação de Wojcieh Jersy Has para o polêmico, misterioso, multiforme e necronômico livro de Jan Potocki (se alguém souber um link pro filme, favor informar.)