Este romance policial de 1964, editado por João Condé, é um dos nossos mais famosos exemplos de “round-robin”, romance em que cada autor escreve um capítulo e passa a bola para o próximo. No presente caso, eram dez. A história de um crime violento durante o Carnaval, no apartamento de um milionário em Copacabana, foi começada por Viriato Corrêa, que narrou o crime inicial e propôs o mistério básico sobre três mulheres não identificadas, cujos nomes começam pela mesma letra.
Os capítulos, se não me falha a memória, eram publicados semanalmente em O Cruzeiro. Lembro das páginas duplas com ilustrações, carros, homens empunhando armas, parecendo a revista X-9 ou algum outro pulp magazine nacional. Do segundo capítulo em diante colaboraram, pela ordem, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, João Guimarães Rosa, Antonio Callado, Orígenes Lessa e o último capítulo cabendo a Rachel de Queiroz.
Há vários crimes violentos, um grande número de personagens, o enredo tão claro ou tão confuso quanto o de qualquer pulp fiction. O curioso é que os estilos desses escritores tão diferentes convergiram na direção de um esperanto comum a todos. Aqui e acolá reconhece-se o autor num diálogo, num nome de personagem, numa alusão geográfica ou literária. Mas vozes tão dissímiles quanto as de Jorge Amado, Guimarães Rosa e Antonio Callado estão quase intercambiáveis, na sua capacidade de entrar no diapasão feito soar por Viriato Corrêa.
Rosa contribuiu com uma detetive, a Tia Maria, que tem com o comissário Dr. Brasil uma relação parecida com a da Miss Marple de Agatha Christie com seu sobrinho. A personagem foi adotada pelos autores dos capítulos finais, e traz uma certa ajuda para o delegado Rocha Novais, o velho investigador Soares e o próprio Dr. Brasil, que no auge do desespero com a investigação que não progride desabafa com a melhor frase do livro: “Esse negócio de crime devia ser proibido!” (episódio de Orígenes Lessa).