Um dos conselhos mais frequentes em cursos de escrita criativa ou em oficinas literárias é: “aumente o seu vocabulário”. O conselho é bom, mas às vezes mal interpretado. Muita gente folheia o dicionário ao acaso, procurando palavras que nunca viu, anotando-as e depois procurando um modo de encaixá-las num texto.
Devia ser proibido usar uma palavra sem tê-la visto, antes, nuns dez contextos diferentes. É o contexto que nos ensina o significado de uma palavra. Criança aprende a falar assim. Nunca vi uma criança de 5 anos procurar uma palavra no dicionário. Cem por cento do nosso vocabulário se forma via contexto. Uma variedade de contextos define uma palavra melhor do que qualquer dicionário. Aliás, os bons dicionários, mais do que somente definir, contextualizam o tempo todo.
Palavra difícil é aquela que a gente nunca viu antes. Para muitos leitores, o verbo “contextualizar”, usado acima, é uma palavra banal; para outros será uma palavra difícil, porque nunca a viram. Palavras de vocabulários específicos são sempre “difíceis” para quem não é do ramo: escanteio, sustenido, cacófato, ciberespaço, alínea, hipotermia, pirangueiro, sincopado, catraca, virabrequim, deletar... Ninguém nasce conhecendo essas palavras e algumas pessoas morrerão sem conhecê-las. São fáceis? São difíceis? Para alguns sim, outros não.
Usar palavras difíceis para fingir erudição é uma armadilha em que todo principiante cai em algum momento; é um tropeção inevitável em qualquer aprendizado. Algumas profissões, como as da área jurídica, se deixam aprisionar num jargão obscuro e pomposo. É como uma moeda que só tem valor num país pequeno. Quando esse cacoete irritante invade o terreno da comunicação (como o jornalismo) ou da arte (como a literatura) suas limitações ficam mais evidentes. A linguagem é para ser compreendida, e enriquecida, em medida equivalente, e sem parar.