(ilustração: Chema Madoz)
Por que chamamos o futebol de “o esporte bretão”? Aliás, chamamos não, chamávamos, porque faz tempo que não vejo um coleguinha da imprensa escrever isto sem que seja “em contexto” (ironicamente, etc.). Falar assim a cru, a sério, é para quem diz “o escrete canarinho”, “a número cinco”... Um estilo em extinção. Houve uma época, no entanto, em que dizia-se isso a três por dois, provavelmente para lembrar a todos que era uma arte vinda da Inglaterra.
Então, por que não dizermos “o esporte inglês”? Porque a Inglaterra também é chamada de Grã-Bretanha. Isso deixa uma curiosidade: esses dois nomes de país são sinônimos? Não, explica um videozinho didático que vi por aí na web, explicando a complicadíssima relação jurídico-institucional-hierárquica entre as Ilhas Britânicas (olha o nome aí) e suas atuais e antigas colônias. É um negócio mais complicado do que a partilha do espólio do Império Romano.
Acontece que quando eu ouvia falar “Bretanha” meu ouvido não me arrastava para a Inglaterra. Bretanha para mim era aquela região mágica do litoral da França, em forma de triângulo mineiro truncado ou leão ruginte, apontando para noroeste em pleno Atlântico. Uma região mística, pau-a-pau com São José de Belmonte e a Área 51. A Bretanha francesa de Nantes, onde Julio Verne criou um futuro que só aconteceria retroativamente em forma de steampunk. Bretanha de Ernest Renan, que botou sob o microscópio da História o DNA de Cristo. De Pierre Souvestre, o homem que criou Fantomas.
É a terra dos bretões, nome dado pelos romanos: Britannia. Os bretões da Inglaterra (“britons”) tinham sua língua, seus costumes, e foram encurralados pelos romanos ilha adentro. Depois veio a briga-de-cachorro-grande, a batalha dos normandos contra os anglo-saxões, mas eles, sempre ali. O mais famoso que herdou seu selo, foi, na minha discreta opinião, André Breton, mais em nome e espírito do que em berço (nasceu na Normandia francesa, outra mina de ouro pra quem faz minisséries de aventuras). Breton foi o inventor do surrealismo, esse terremoto psíquico que liquefaz a consciência disciplinar que nos foi imposta e deixa o inconsciente de fogo falar suas palavras de fogo. O criador da escrita automática, das enquetes eróticas, da hipno-imaginação.