(ilustração: Bill Waterson)
Todo escritor é obrigado a responder essa pergunta em qualquer bate-papo, palestra, chat via Internet. Cada um se vira como pode. A resposta não é difícil de dar, mas existe um acordo entre escritores profissionais de que é proibido revelar esse segredo aos leitores, aos críticos e aos escritores não-profissionais. É um pouco como os rituais da Maçonaria, a senha de acesso ao mainframe da CIA e a idade das atrizes do cinema. Correndo o risco de ser metralhado por mafiosos numa noite chuvosa numa rua deserta, revelarei alguns desses lugares secretos de onde vêm as idéias para as obras literárias.
No Rio de Janeiro há uma galeria, na rua Marquês de Abrantes, com uma daquelas maquininhas de vender balas mediante fichas. Quem pede a ficha mais cara tem acesso a um depósito de balas que são ocas e trazem idéias para histórias no seu interior, enroladinhas em papéis como os do “biscoito da sorte”. Em Melbourne (Austrália), no aeroporto, basta pedir a versão atualizada do “Guia de Ruas”: a cada cinco páginas haverá um pequeno box impresso com idéias para histórias. Em Seattle, há uma casinha de subúrbio sempre trancada, mas a porta dos fundos fica aberta. Numa lata de leite em pó no armário, há idéias. Em Lodz, na Polônia, podem-se receber mentalmente idéias de uma árvore no jardim municipal, mediante uma espécie de wifi, não de mensagens concretas.
Curiosamente, foram localizadas três cidades onde as idéias podem ser recolhidas num cofre de fechadura quebrada no guarda-volumes da respectiva estação rodoviária: são elas Feira de Santana (Bahia), Ipatinga (MG) e Vancouver (Canadá). Nas minhas anotações consta também um supermercado em Vila Mariana (São Paulo) onde as pessoas que compram sacos de batatinhas Ruffles deparam-se às vezes com um saco (de cor inesperadamente verde) cheio de idéias anotadas e dobradinhas. Viajando fora do Brasil e precisando escrever, já encontrei idéias distribuídas como brinde a quem tomasse o café da manhã numa padaria no Largo do Areeiro, em Lisboa.