(armazéns de algodão na rua Miguel Couto)
Eu me lembro de barraquinhas do lado de fora do Mercado São José, no Recife, onde eu, aos 13 anos, via pilhas de revistas Suspense, X-9 e Meia Noite, mais altas do que eu. Eu me lembro de andar na beira do Açude Velho e um dia ver uma abertura na calçada e lá embaixo uma espécie de sala cheia de canos muito grossos, tubulações de ferro, instrumentos zumbindo. Eu me lembro do Beco da Fome no Rio de Janeiro e o meu prato preferido, “arroz com dois ovos fritos”. Eu me lembro de Crush e Grapette, de Kitut e Presuntada Wilson, de confeitos Gasosa, dos Drops Dulcora, “quadradinhos, embrulhadinhos um a um”.
Eu me lembro das quatro enormes cabeças de bronze que havia na Praça Sete, no meio da avenida Afonso Pena em Belo Horizonte. Eu me lembro dos animais empalhados na vitrine do Palacinho da Criança. Eu me lembro das antigas redes Entrelivros e Unilivros, no Rio, com balcões cheios de livros de ponta-de-estoque a preço de banana. Eu me lembro das folhas de plástico transparente e colorido que eram colocadas diante das TVs em preto-e-branco. Eu me lembro da campanha política para prefeito entre Severino Cabral “Pé de Chumbo” e Newton Rique “Mão de Seda”. Eu me lembro dos doces de leite cortados em forma de losango nos cafés de Belo Horizonte. Eu me lembro de quando algumas meninas do Estadual da Prata eram barradas na entrada porque estavam com sutiã preto sob a blusa branca.
Eu me lembro da estátua da “Samaritana” de Abelardo da Hora na Praça da Bandeira, em frente ao Correio. Eu me lembro da casa em forma de navio que havia na praia de Boa Viagem. Eu me lembro de quando Arlindo “Nova Seita”, pandeirista da Escola de Samba XV de Novembro, trouxe a bateria da escola para tocar dentro da casa da gente no Alto Branco. Eu me lembro do banheiro do Cine Paissandu, no Flamengo, com suas pias e privadas em louça toda negra. Eu me lembro da Festa da Mocidade no descampado onde depois virou a Rodoviária Velha e depois na Praça da Bandeira em frente às Damas.