Reli agora este livro que eu tinha lido apenas uma vez, em 1971, e fiquei pasmo: era exatamente o mesmo livro que eu lembrava. Claro que durante esse período o cinema (Michael Radford) e o rock (Rick Wakeman) reavivaram a memória, mas não é qualquer livro que grava as coisas assim na memória da gente, como cinzel no metal. Nineteen Eighty-Four (o título original é por extenso) já foi apontado como o livro mais depressivo, ou mais pessimista, de toda a literatura, e até como “o livro que matou George Orwell”, pois o autor, trabalhando em condições difíceis, viu sua tuberculose piorar ao longo de 1948, quando concluiu o livro, publicado em junho de 1949. Ele morreu em janeiro de 1950.
Para muita gente a obra de Orwell foi profética ao criar conceitos como o do Big Brother, que deixou de ser simplesmente a pessoa do ditador paternal, tipo Stálin ou Getúlio, e tornou-se sinônimo da sociedade supervigiada, com uma câmara-tela espiã em cada aposento. (Não literalmente – mas hoje sabemos que qualquer atividade eletrônica nossa é tão sujeita a espia quanto o diário manuscrito que Winston Smith escondia em seu apartamento, na esperança de que ninguém o revistasse.) O reality show que adotou esse nome acabou dando-lhe uma curiosa e atual conotação. O Big Brother não é apenas alguém que vigia você. É alguém que faz você querer vigiá-lo o dia inteiro, passar o dia pensando nele, na programação dele, e se viciar nas imagens oferecidas por ele 24 horas por dia.