(Amy Adams, Jennifer Lawrence, Amy Adams)
American Hustle (David O. Russell, 2013) é um desses filmes de golpe-sobre-golpe, em que dois ou mais grupos de criminosos (policiais, espertalhões, mafiosos, etc.) se misturam e cada pessoa começa a representar um papel duplo, e às vezes triplo, para que a cilada tenha sucesso, uma cilada que o espectador está e não está sempre a um passo de compreender por completo. Feliz o filme que deixa nesse espectador a sensação de que o conseguiu.
Um golpista que deixa tão evidente sua tentativa de disfarçar a careca e a barriga que todo mundo se esquece de verificar seus dados. Uma inglesa que só falta dizer que é de London, Texas. Um agente federal cheirado de pó até a raiz dos cabelos, trincado como uma explosão num cofre-forte, bolando esquemas rocambolescos para enjaular políticos corruptos usando vigaristas-em-xeque como isca. Uma loura burra que, a golpes de lourice e esperteza consegue acabar o mundo e melhorar de vida.
A história é em cima dos dois casais principais; entre os coadjuvantes estão Robert DeNiro e Jeremy Renner (de The Hurt Locker). Existem alguns filmes de golpe (de assalto a banco, p. ex.) onde o enredo é complicado como um mecanismo de relógio, e os personagens ficam parecendo robôs que entram, batem as horas e se afastam. Este aqui pertence talvez a um subgênero onde a história inteira (o golpe, a verossimilhança que o conto-do-vigário precisa ter aos olhos da vítima) depende de um mundo de pequenos detalhes, mas os personagens, em vez de recitarem os papéis direitinho, extrapolam, têm crises, arrependem-se, mudam de idéia ou têm uma idéia melhor em cima da hora, e isso joga o roteiro para o alto, em parafuso.