(foto: Rodrigo Motta)
Movimentos políticos de rua têm de tudo. Jovens preocupados com o futuro do país em que viverão um dia suas velhices (pensem nisto agora, amigos). Velhos relembrando os bons tempos da “revolução no ar”. Baderneiros e vândalos. Hippies, hipsters, ripongas, ripadores de animê. Tímidos que jamais soltariam um berro daqueles na Av. Rio Branco se estivessem sozinhos. Agentes de extrema-direita e de extrema-esquerda infiltrados. Gente descontente com os partidos. Militantes ingênuos para quem o único partido sem políticos corruptos é o seu.
Muitos que estão ali são meros curiosos, satisfeitos em participar de um momento fora do comum, porque terão uma história para contar no dia seguinte: “Olha, ninguém me disse: eu estava lá...”. Entre aquelas dezenas que erguem cartazes e faixas, você vai encontrar lado a lado duas pessoas que, se parassem para acertar os ponteiros, passariam quatro anos discutindo sem chegar a um denominador comum. Mas erguem os cartazes, protestam, cantam hino, andam lado a lado, e cada um deles acredita que está indo na direção certa. Podem até estar.
Manifestação tem skinhead, aposentado, marqueteiro, universitário jubilado, balconista, comerciante, batedor de carteira, vendedor de picolé, trotskista, keynesiano, sadomasoquista, evangélico, flanelinha. Tem modelo-e-atriz, manicure, perua, piranha, filhinha da mamãe, filhinha do papai, socialite, socióloga, feminista, doméstica, filósofa, poetisa, cobradora de ônibus. Todos tentam, num momento assim, encontrar um movimento coletivo que lhes dê a sensação de serem um só, sem ao mesmo tempo desbastar as arestas de individualidade que os definem.
(OBS. texto escrito na 4a-feira, 19 de junho, após o pronunciamento conjunto de Alckmin & Haddad)