O gesto de pagar de volta um favor qualquer é sempre um
gesto positivo. Mas igualmente positivo é o gesto de pagar para diante, “to pay
forward”, como dizem os norte-americanos. Dizem que Theodore Sturgeon, o grande
escritor de More Than Human, estava
uma vez numa pindaíba que dava dó. O igualmente grande Robert Heinlein, que estava
com um ou dois livros na lista de best-sellers, ficou sabendo e mandou-lhe pelo
correio um cheque que lhe zerava as dívidas. Sturgeon agradeceu e disse que
pagaria de volta, quando pudesse. Heinlein disse: “Não precisa me pagar. Quando
vir alguém que precisa, e puder ajudar, ajude. Pague para diante.”
Eu não me sinto manietado nem jungido quando mando meu muito-obrigado a alguém. A carga de significado desse agradecimento está mais na posição que ele ocupa no encadeamento do diálogo do que no sumo semântico de seus termos. Esqueçam os termos em si. Como diz um amigo meu, quando a gente chama um sujeito qualquer de filho-da-puta não está tentando ofender a mãe dele, uma santa senhora que não merece o filho canalha que tem.
Na minha cabeça, a palavra “obrigatoriedade” evoca idéias
de autoritarismo, perda do livre arbítrio, cerceamento da liberdade.
Curiosamente, a expressão “muito
obrigado” não carrega (falo de minha leitura pessoal) nenhuma dessas
conotações. Por alguma tresleitura feita na infância, algum entendimento
enviesado do que os adultos estavam dizendo, sempre traduzi “muito obrigado”
por “muito agradecido”, e essa fórmula para mim encerrava a questão. Você me
faz um favor. Eu reconheço, registro, agradeço, e boa tarde.
Eu nada tenho contra quem usa “gratidão”, e na verdade
nem percebo mais. Digo “obrigado!” há décadas e espero continuar a fazê-lo por
muitas décadas mais. Embora atualmente me veja dando preferência ao popular
“Valeu!...”. Ele me parece uma versão mais informal desse termo, uma versão
mais calça-jeans-e-camiseta. “Obrigado” ainda é um pouco
camisa-social-de-mangas-compridas.
Eu não me sinto manietado nem jungido quando mando meu muito-obrigado a alguém. A carga de significado desse agradecimento está mais na posição que ele ocupa no encadeamento do diálogo do que no sumo semântico de seus termos. Esqueçam os termos em si. Como diz um amigo meu, quando a gente chama um sujeito qualquer de filho-da-puta não está tentando ofender a mãe dele, uma santa senhora que não merece o filho canalha que tem.